Este documento tem como objetivo oferecer uma visão geral da linguagem de programação Raku. Para quem é novo em Raku esse material deve te dar o necessário para começar.

Algumas seções desse documento referenciam outras partes (mais completas e precisas) da documentação do Raku. Leia-as se precisar de mais informações sobre um assunto específico.

Ao longo desse documento você encontrará exemplos para a maior parte dos assuntos discutidos. Para melhor entendê-los, invista tempo reproduzindo todos os exemplos.

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1. Introdução

1.1. O que é Raku

Raku é uma linguagem de alto nível, uso geral e com tipagem gradual. Raku é multi paradigma. Ela suporta programação Procedural, Orientada a Objetos e Funcional.

Lema do Raku:
  • TMTOWTDI (Pronuncia-se Tim Toady): Existe mais de uma maneira de se fazer as coisas (there is more than one way to do it).

  • Coisas fáceis devem continuar fáceis, coisas difíceis deveriam se tornar mais fáceis, e coisas impossíveis deveriam ser só mais difíceis.

1.2. Jargão

  • Raku: É a especificação da linguagem com uma suite de testes. Implementações que passem na suite de testes da especificação são consideradas Raku.

  • Rakudo: É um compilador para Raku.

  • Rakudobrew: É um gerenciador de instalações para o Rakudo.

  • Zef: É um instalador de módulos do Raku.

  • Rakudo Star: É um pacote que inclui Rakudo, Zef, uma coleção de módulos Raku, e documentação.

1.3. Instalando Raku

Linux

Para instalar o Rakudo Star, execute os seguintes comandos no terminal:

mkdir ~/rakudo && cd $_
curl -LJO https://rakudo.org/latest/star/src
tar -xzf rakudo-star-*.tar.gz
mv rakudo-star-*/* .
rm -fr rakudo-star-*

./bin/rstar install

echo "export PATH=$(pwd)/bin/:$(pwd)/share/perl6/site/bin:$(pwd)/share/perl6/vendor/bin:$(pwd)/share/perl6/core/bin:\$PATH" >> ~/.bashrc
source ~/.bashrc

For other options, go to https://rakudo.org/star/source

macOS

Quatro opções estão disponíveis:

  • Siga os mesmos passos listados para instalar no Linux

  • Instale com o homebrew: brew install rakudo-star

  • Instale com o MacPorts: sudo port install rakudo

  • Baixe o instalador (arquivo com extensão .dmg) mais recente em http://rakudo.org/downloads/star/

Windows
  1. Baixe a última versão do instalador (arquivo com extensão .msi) em http://rakudo.org/downloads/star/
    Se o seu sistema for 32 bits, baixe o arquivo x86; se for 64 bits, baixe o arquivo x86_64.

  2. Após a instalação, certifique-se que C:\rakudo\bin está na sua variável PATH

Docker
  1. Pegue a imagem oficial do Docker docker pull rakudo-star

  2. Depois execute o container com a imagem docker run -it rakudo-star

1.4. Executando código em Raku

Executar código Raku pode ser feito usando a REPL (Read-Eval-Print Loop). Para isso, abra um terminal, digite raku na janela do terminal e aperte [Enter]. Isso vai fazer com que um prompt de > apareça. Em seguida, digite uma linha de código e aperte [Enter]. A REPL vai exibir o valor daquela linha. Você pode então digitar outra linha, ou digitar exit e aperte [Enter] para sair da REPL.

Como alternativa, escreva seu código em um arquivo, salve e execute-o. É recomendado que programas em Raku sejam gravados em arquivos com a extensão .raku. Execute o arquivo digitando raku nomedoarquivo.raku na janela do terminal e apertando [Enter]. Ao contrário da REPL, isso não vai automaticamente imprimir o resultado de cada linha: o código precisa ter um comando say para imprimir coisas.

A REPL é usada principalmente para experimentar algum código específico, normalmente uma única linha. Para programas com mais de uma linha é recomendado escrever em um arquivo e executá-lo.

Linhas individuais também podem ser executadas de modo não interativo na linha de comando digitando raku -e 'seu código aqui' e apertando [Enter].

O pacote Rakudo Star inclui um editor de linhas que ajuda a obter o máximo da REPL.

Se você instalou apenas o Rakudo em vez do Rakudo Star você provavelmente não tem os recursos de edição de linhas ativado (como usar as setas para cima e para baixo para ver o histórico, esquerda e direita para editar a linha, e auto completar com a tecla TAB). Considere executar o seguinte comando e estará tudo pronto:

  • zef install Linenoise deve funcionar em Windows, Linux e OSX

  • zef install Readline se estiver no Linux e preferir a biblioteca Readline

1.5. Editores

Como vamos passar um bom tempo escrevendo e gravando programas Raku em arquivos, é bom termos um editor de textos decente que reconheça a sintaxe do Raku.

Eu particularmente uso e recomendo o Atom. É um editor de textos moderno e já vem com reconhecimento de sintaxe em Raku. Raku-fe é um reconhecedor de sintaxe alternativo para o Atom, derivado do pacote original mas com muitas correções e adições.

Outras pessoas na comunidade também usam Vim, Emacs ou Padre.

Versões recentes do Vim já vem com reconhecimento de sintaxe. Emacs e Padre precisam da instalação de pacotes adicionais.

1.6. Alô Mundo!

Vamos começar com o ritual alô mundo.

say 'hello world';

isso também pode ser escrito como:

'hello world'.say;

1.7. Visão geral da sintaxe

Raku tem forma livre: Você tem liberdade (na maioria dos casos) para usar qualquer quantidade de espaços em branco.

Declarações são normalmente uma linha lógica de código, e terminam com um ponto-e-vírgula: say "Hello" if True;

Expressões são um tipo especial de declaração que retorna um valor: 1+2 retorna 3

Expressões são feitas por Termos e Operadores.

Termos são:

  • Variáveis: Um valor que pode ser manipulado e modificado.

  • Literais: Um valor constante como um número ou string (sequência de caracteres).

Operadores são classificados em tipos:

Tipo

Explicação

Exemplo

Prefixo (Prefix)

Antes do termo.

++1

Infixo (Infix)

Entre termos

1+2

Sufixo (Postfix)

Após o termo

1++

Circunfixos (Circumfix)

Em torno do termo

(1)

Pós circunfixos (Postcircumfix)

Após um termo, em torno de outro

Array[1]

1.7.1. Identificadores

Identificadores são os nomes dados aos termos quando você os define.

Regras:
  • Precisam começar com um caractere do alfabeto ou um underscore (sublinhado).

  • Precisam conter dígitos (exceto o primeiro caractere).

  • Podem conter hífens ou apóstrofes (exceto os primeiros e últimos caracteres), contanto que haja um caractere alfabético à direita de cada hífen ou apóstrofe.

Válido

Inválido

var1

1var

var-um

var-1

var’um

var'1

var1_

var1'

_var

-var

Convenções para nomes:
  • Camel case: variableNo1

  • Kebab case: variable-no1

  • Snake case: variable_no1

Você está livre para nomear seus identificadores como quiser, mas é uma boa prática adotar uma convenção de forma consistente.

Usar nomes significativos vai facilitar a sua vida (e a de outros) programando.

  • var1 = var2 * var3 é sintaticamente correto mas o propósito não é claro.

  • salario-mensal = taxa-diaria * dias-uteis seria uma forma melhor de nomear suas variáveis.

1.7.2. Comentários

Um comentário é um pedaço de texto ignorado pelo compilador e usado como uma nota.

Comentários são divididos em 3 tipos:

  • Linha única:

    # Isso é uma linha de comentário
  • Embutido:

    say #`(Isso é um comentário embutido) "Alô Mundo."
  • Multi linhas:

    =begin comment
    Esse é um comentário de várias linhas.
    Comentário 1
    Comentário 2
    =end comment

1.7.3. Aspas (Quotes)

Strings precisam ser delimitadas por aspas duplas ou aspas simples.

Sempre use aspas duplas:

  • se sua string contém uma apóstrofe (aspas simples).

  • se sua string contém uma variável que precisa ser interpolada.

say 'Alô Mundo';   # Alô Mundo
say "Alô Mundo";   # Alô Mundo
say "Gota d'água"; # Gota d'água
my $name = 'Maria Silva';
say 'Alô $name';   # Alô $name
say "Alô $name";   # Alô Maria Silva

2. Operadores

2.1. Operadores Comuns

A tabela abaixo lista os operadores mais usados.

Operador Tipo Descrição Exemplo Resultado

+

Infix

Adição

1 + 2

3

-

Infix

Subtração

3 - 1

2

*

Infix

Multiplicação

3 * 2

6

**

Infix

Potência

3 ** 2

9

/

Infix

Divisão

3 / 2

1.5

div

Infix

Divisão inteira (arredonda para baixo)

3 div 2

1

%

Infix

Módulo

7 % 4

3

%%

Infix

Divisibilidade

6 %% 4

False

6 %% 3

True

gcd

Infix

Máximo denominador comum (mdc)

6 gcd 9

3

lcm

Infix

Menor múltiplo comum (mmc)

6 lcm 9

18

==

Infix

Igualdade numérica

9 == 7

False

!=

Infix

Diferente numérico

9 != 7

True

<

Infix

Menor que

9 < 7

False

>

Infix

Maior que

9 > 7

True

<=

Infix

Menor ou igual a

7 <= 7

True

>=

Infix

Maior ou igual a

9 >= 7

True

eq

Infix

Igualdade de string

"João" eq "João"

True

ne

Infix

Diferença de string

"João" ne "Joana"

True

=

Infix

Atribuição

my $var = 7

Atribui o valor 7 à variável $var

~

Infix

Concatenação de strings

9 ~ 7

97

"Oi " ~ "pessoal"

Oi pessoal

x

Infix

Replicação de strings

13 x 3

131313

"Olá " x 3

Olá Olá Olá

~~

Infix

Smart match (equivalência inteligente)

2 ~~ 2

True

2 ~~ Int

True

"Raku" ~~ "Raku"

True

"Raku" ~~ Str

True

"iluminação" ~~ /ilumina/

「ilumina」

++

Prefix

Incremento

my $var = 2; ++$var;

Incrementa em 1 o valor da variável e retorna o resultado (no caso, 3)

Postfix

Incremento

my $var = 2; $var++;

Retorna a variável (no caso, 2) e só então incrementa seu valor

--

Prefix

Decremento

my $var = 2; --$var;

Decrementa em 1 o valor da variável e retorna o resultado (no caso, 1)

Postfix

Decremento

my $var = 2; $var--;

Retorna a variável (no caso, 2) e só então decrementa seu valor

+

Prefix

Força o operando para um valor numérico

+"3"

3

+True

1

+False

0

-

Prefix

Força o operando para um valor numérico e retorna sua negação

-"3"

-3

-True

-1

-False

0

?

Prefix

Força o operando para um valor booleano

?0

False

?9.8

True

?"Hello"

True

?""

False

my $var; ?$var;

False

my $var = 7; ?$var;

True

!

Prefix

Força o operando para um valor booleano e retorna sua negação

!4

False

..

Infix

Construtor de Sequências

0..5

Cria uma série de 0 a 5

..^

Infix

Construtor de Sequências

0..^5

Cria uma série de 0 a 4

^..

Infix

Construtor de Sequências

0^..5

Cria uma série de 1 a 5

^..^

Infix

Construtor de Sequências

0^..^5

Cria uma série de 1 a 4

^

Prefix

Construtor de Sequências

^5

Same as 0..^5 Cria uma série de 0 a 4

…​

Infix

Construtor de Listas Preguiçosas (Lazy Lists)

0…​9999

Retorna os elementos só quando pedido

|

Prefix

Achatamento (Flattening)

|(0..5)

(0 1 2 3 4 5)

|(0^..^5)

(1 2 3 4)

2.2. Operadores Reversos

Adicionar um R antes de qualquer operador tem o efeito de inverter seus operandos.

Operação Normal Resultado Operador Reverso Resultado

2 / 3

0.666667

2 R/ 3

1.5

2 - 1

1

2 R- 1

-1

2.3. Operadores de Redução

Operadores de redução trabalham com listas de valores. Eles são formados colocando o operador entre colchetes []

Operação Normal Resultado Operador de Redução Resultado

1 + 2 + 3 + 4 + 5

15

[+] 1,2,3,4,5

15

1 * 2 * 3 * 4 * 5

120

[*] 1,2,3,4,5

120

Para a lista completa de operadores, incluindo sua precedência, visite https://docs.raku.org/language/operators

3. Variáveis

Variáveis em Raku são classificadas em 3 categorias: Scalars (escalares), Arrays e Hashes.

Um sigil (símbolo) é um caractere usado como prefixo para categorizar variáveis.

  • $ é usado para scalars

  • @ é usado para arrays

  • % é usado para hashes

3.1. Scalars

Um scalar guarda um valor ou uma referência.

#String
my $nome = 'Maria Silva';
say $nome;

#Número
my $idade = 99;
say $idade;

Um grupo específico de operações pode ser realizada em um scalar, dependendo do valor que ele armazena.

String
my $nome = 'Maria Silva';
say $nome.uc;
say $nome.chars;
say $nome.flip;
MARIA SILVA
11
avliS airaM
Para a lista completa de métodos aplicáveis a Strings, veja https://docs.raku.org/type/Str
Inteiros
my $idade = 17;
say $idade.is-prime;
True
Para a lista completa de métodos aplicáveis a Inteiros, visite https://docs.raku.org/type/Int
Números Racionais
my $idade = 2.3;
say $idade.numerator;
say $idade.denominator;
say $idade.nude;
23
10
(23 10)
Para a lista completa de métodos aplicáveis a Números Racionais, visite http://doc.raku.org/type/Rat

3.2. Arrays

Arrays são listas contendo vários valores.

my @animais = 'camelo','lhama','coruja';
say @animais;

Muitas operações podem ser feitas em arrays como mostrado no exemplo abaixo:

O til ~ é usado para concatenar strings.
Script
my @animais = 'camelo','vicunha','lhama';
say "O zoológico contém " ~ @animals.elems ~ " animais";
say "Os animais são: " ~ @animais;
say "Vou adotar uma coruja para o zoo";
@animais.push("coruja");
say "Agora o zoo tem: " ~ @animals;
say "O primeiro animal adotado foi o " ~ @animais[0];
@animais.pop;
say "Infelizmente a coruja fugiu e ficamos com: " ~ @animais;
say "Vamos fechar o zoológico e manter apenas um animal";
say "Vamos soltar: " ~ @animais.splice(1,2) ~ " e ficar com o " ~ @animais;
Saída
O zoológico contém 3 animais
Os animais são: camelo vicunha lhama
Vou adotar uma coruja para o zoo
Agora o zoo tem: camelo vicunha lhama coruja
O primeiro animal adotado foi o camelo
Infelizmente a coruja fugiu e ficamos com: camelo vicunha lhama
Vamos fechar o zoológico e manter apenas um animal
Vamos soltar: vicunha lhama e ficar com o camelo
Explicação

.elems retorna o número de elementos em um array.
.push() adiciona um elemento no final do array.
Podemos acessar um elemento específico do array especificando sua posição, como @animals[0].
.pop remove o último elemento do array.
.splice(a,b) remove os b elementos que estão a partir da posição a.

3.2.1. Arrays de tamanho fixo

Um array básico é declarado assim:

my @array;

O array básico pode ter qualquer tamanho e por isso é chamado de auto-extensível.
Esses arrays aceitam qualquer quantidade de elementos sem restrição.

Por outro lado, também podemos criar arrays de tamanho fixo.
Esses arrays não podem ser acessados em posições acima do seu tamanho predefinido.

Para declarar um array com tamanho fixo, especifique o número máximo de elementos entre chaves imediatamente após o nome:

my @array[3];

Esse array será capaz de armazenar no máximo 3 valores, com índice de 0 a 2.

my @array[3];
@array[0] = "primeiro valor";
@array[1] = "segundo valor";
@array[2] = "terceiro valor";

Você não conseguirá adicionar um quarto valor nesse array:

my @array[3];
@array[0] = "primeiro valor";
@array[1] = "segundo valor";
@array[2] = "terceiro valor";
@array[3] = "quarto valor";
Index 3 for dimension 1 out of range (must be 0..2)

3.2.2. Arrays multidimensionais

Os arrays que vimos até agora são unidimensionais.
Felizmente, podemos definir arrays multidimensionais em Raku.

my @tbl[3;2];

Esse array é bidimensional. A primeira dimensão pode ter até 3 valores e a segunda dimensão até 2 valores.

Pense nele como uma matriz 3x2

my @tbl[3;2];
@tbl[0;0] = 1;
@tbl[0;1] = "x";
@tbl[1;0] = 2;
@tbl[1;1] = "y";
@tbl[2;0] = 3;
@tbl[2;1] = "z";
say @tbl
[[1 x] [2 y] [3 z]]
Representação visual do array:
[1 x]
[2 y]
[3 z]
Para uma referência completa sobre Arrays, veja https://docs.raku.org/type/Array

3.3. Hashes

Um Hash é um conjunto de pares de Chave/Valor.
my %capitais = ('Inglaterra','Londres','Alemanha','Berlim');
say %capitais;
Outra forma sucinta de popular um hash:
my %capitais = (Inglaterra => 'Londres', Alemanha => 'Berlim');
say %capitais;

Alguns métodos que podem ser chamados em hashes são:

Script
my %capitais = (Inglaterra => 'Londres', Alemanha => 'Berlim');
%capitais.push: (França => 'Paris');
say %capitais.kv;
say %capitais.keys;
say %capitais.values;
say "A capital da França é: " ~ %capitais<França>;
Saída
(França Paris Alemanha Berlim Inglaterra Londres)
(França Alemanha Inglaterra)
(Paris Berlim Londres)
A capital da França é: Paris
Explicação

.push: (chave => 'Valor') adiciona um novo par chave/valor.
.kv retorna uma lista contendo todas as chaves e valores.
.keys retorna uma lista contendo todas as chaves.
.values retorna uma lista contendo todos os valores.
Podemos acessar um valor específico no hash especificando sua chave %hash<chave>

Para uma referência completa sobre Hashes, veja https://docs.raku.org/type/Hash

3.4. Tipos

Nos exemplos anteriores, nós não especificamos o tipo dos valores que as variáveis devem conter.

.WHAT retorna o tipo do valor contido em uma variável.
my $var = 'Texto';
say $var;
say $var.WHAT;

$var = 123;
say $var;
say $var.WHAT;

Como você pode ver no exemplo acima, o tipo do valor em $var foi primeiro (Str) e depois (Int).

Esse estilo de programação é chamado tipagem dinâmica. Dinâmico no sentido de que as variáveis podem conter valores de qualquer tipo.

Agora tente executar o seguinte exemplo:
Note o Int antes do nome da variável.

my Int $var = 'Texto';
say $var;
say $var.WHAT;

Ele vai falhar e retornar a mensagem de erro: Type check failed in assignment to $var; expected Int but got Str (Verificação de tipo falhou em atribuição a $var; esperava Int mas recebeu Str)

O que aconteceu foi que especificamos que aquela variável deve ser do tipo (Int). Quando tentamos atribuír uma (Str) nela, a operação falhou.

Esse estilo de programação é chamado tipagem estática. Estática no sentido de que o tipo das variáveis é definido antes das atribuições e não pode mudar.

Raku é classificado como uma linguagem com tipagem gradual; ela permite tanto tipagem estática quanto dinâmica.

Arrays e hashes também podem ser tipados estaticamente:
my Int @array = 1,2,3;
say @array;
say @array.WHAT;

my Str @multilingual = "Alô","Hello","Salut","Hallo","您好","안녕하세요","こんにちは";
say @multilingual;
say @multilingual.WHAT;

my Str %capitais = (Inglaterra => 'Londres', Alemanha => 'Berlim');
say %capitais;
say %capitais.WHAT;

my Int %código-geográfico = (Inglaterra => 44, Alemanha => 49);
say %código-geográfico;
say %código-geográfico.WHAT;
A seguir uma lista dos tipos mais comuns:

Você provavelmente nunca usará os dois primeiros, mas eles foram listados para fins informacionais.

Tipo

Descrição

Exemplo

Resultado

Mu

A raiz da hierarquia de tipos em Raku

Any

classe base padrão para novas classes e para a maioria das classes predefinidas

Cool

Valor que pode ser tratado como string ou número intercaladamente

my Cool $var = 31; say $var.flip; say $var * 2;

13 62

Str

String de caracteres

my Str $var = "NEON"; say $var.flip;

NOEN

Int

Inteiro (precisão arbitrária)

7 + 7

14

Rat

Número racional (precisão limitada)

0.1 + 0.2

0.3

Bool

Booleano

!True

False

3.5. Introspecção

Introspec’ão é o processo de obter informações sobre as propriedades de um objeto, como seu tipo.
Em um dos exemplos acima usamos .WHAT para retornar o tipo de uma variável.

my Int $var;
say $var.WHAT;    # (Int)
my $var2;
say $var2.WHAT;   # (Any)
$var2 = 1;
say $var2.WHAT;   # (Int)
$var2 = "Alô";
say $var2.WHAT;   # (Str)
$var2 = True;
say $var2.WHAT;   # (Bool)
$var2 = Nil;
say $var2.WHAT;   # (Any)

O tipo de uma variável armazenando determinado valor é correlacionado ao valor em si.
O tipo de uma variável vazia fortemente declarada é o tipo com que foi declarada.
O tipo de uma variável vazia que não foi fortemente declarada é (Any)
Para limpar o valor de uma variável, atribua Nil a ela.

3.6. Escopo

Antes de usar uma variável pela primeira vez, ela precisa ser declarada.

Há muitas formas de se declarar variáveis em Raku, e my é a que utilizamos até agora em todos os exemplos acima.

my $var=1;

O declarador my dá à variável um escopo léxico. Em outras palavras, a variável só será acessível no mesmo bloco em que foi declarada.

Um bloco em Raku é delimitado por { }. Se nenhum bloco é encontrado, a variável estará disponível em qualquer parte do programa Raku.

{
  my Str $var = 'Texto';
  say $var; # está acessível
}
say $var; # não está acessível, retorna erro

Como uma variável só pode ser acessada no bloco em que é definida, outra variável com o mesmo nome pode ser definida em outro bloco.

{
  my Str $var = 'Texto';
  say $var;
}
my Int $var = 123;
say $var;

3.7. Atribuição x Vinculação (Binding)

Vimos nos exemplos anteriores como atribuir valores a variáveis.
Atribuições são feitas usando o operador =.

my Int $var = 123;
say $var;

Podemos mudar o valor atribuido a uma variável:

Atribuição
my Int $var = 123;
say $var;
$var = 999;
say $var;
Saída
123
999

Por outro lado, não podemos mudar valores vinculados a uma variável.
Vinculação (ou "Binding") é feito usando o operador :=.

Binding
my Int $var := 123;
say $var;
$var = 999;
say $var;
Saída
123
Cannot assign to an immutable value
Variáveis também podem ser vinculadas a outras variáveis:
my $a;
my $b;
$b := $a;
$a = 7;
say $b;
$b = 8;
say $a;
Saída
7
8

Vinculação de variáveis, como você já percebeu, é bidirecional.
$a := $b e $b := $a têm o mesmo efeito.

Para mais informações sobre variáveis, veja https://docs.raku.org/language/variables

4. Funções e modificadores (mutators)

É importante diferenciar funções de modificadores.
Funções não mudam o estado inicial do objeto onde foram chamadas.
Já modificadores mudam o estado de um objeto ao serem invocados.

Script
 1
 2
 3
 4
 5
 6
 7
 8
 9
10
my @números = [7,2,4,9,11,3];

@números.push(99);
say @números;      #1

say @números.sort; #2
say @números;      #3

@números.=sort;
say @números;      #4
Saída
[7 2 4 9 11 3 99] #1
(2 3 4 7 9 11 99) #2
[7 2 4 9 11 3 99] #3
[2 3 4 7 9 11 99] #4
Explicação

.push é um mutator, ele modifica o estado do array (#1)

.sort é uma função, ela retorna uma lista ordenada mas não modifica o estado do array inicial:

  • (#2) mostra que retornou um array ordenado.

  • (#3) mostra que o array inicial não foi modificado.

Para forçar uma função a agir como um modificador, usamos .= em vez de . (#4) (Linha 9 do script)

5. Laços (loops) e condicionais

Raku possui uma série de construções para loops e condicionais.

5.1. if

O código é executado somente se a condição foi atingida, ou em outras palavras se a expressão retornar True (verdadeiro).

my $idade = 19;

if $idade > 18 {
  say 'Bem-vinda'
}

Em Raku podemos inverter o código e a condição.
Mesmo se o código e a condição estiverem invertidos, a condição é sempre avaliada antes.

my $idade = 19;

say 'Bem-vinda' if $idade > 18;

Se a condição não foi atingida, podemos especificar blocos com alternativas usando:

  • else

  • elsif

# experimente executar o mesmo código para diferentes valores da variável
my $número-de-assentos = 9;

if $número-de-assentos <= 5 {
  say 'Sou um sedã'
} elsif $número-de-assentos <= 7 {
  say 'Sou um carro de 7 lugares'
} else {
  say 'Sou uma van'
}

5.2. unless

A negação de um if pode ser escrita usando unless.

O código a seguir:

my $sapatos-limpos = False;

if not $sapatos-limpos {
  say 'Limpe seus sapatos'
}

pode ser escrito como:

my $sapatos-limpos = False;

unless $sapatos-limpos {
  say 'Limpe seus sapatos'
}

Negação em Raku é feita usando ! ou not.

unless (condição) é usado em vez de if not (condição).

unless não pode ter bloco de else.

5.3. with

with funciona como um if, mas verifica se a variável está definida.

my Int $var=1;

with $var {
  say 'Alô'
}

Se você executar o código acima sem atribuir um valor para a variável, o bloco não será executado.

my Int $var;

with $var {
  say 'Alô'
}

without é a versão negada de with. É como a relação do if com o unless.

Se a primeira condição de um with não for atingida, uma alternativa pode ser especificada usando orwith.
with e orwith podem ser comparadas a if e elsif.

5.4. for

O laço for itera sobre vários valores.

my @array = [1,2,3];

for @array -> $item {
  say $item * 100
}

Note que criamos uma variável de iteração $item para realizar a operação *100 em cada item do array.

5.5. given

given é o equivalente em Raku da função "switch" de outras linguagens.

my $var = 42;

given $var {
    when 0..50 { say 'Menor ou igual a 50'}
    when Int { say "é um Int" }
    when 42  { say 42 }
    default  { say "oi?" }
}

Ao casar com uma condição, ele para de testar as outras condições.

Como alternativa, usar proceed vai instruir o Raku a continuar tentando casar com outras condições mesmo após a execução da condição atual.

my $var = 42;

given $var {
    when 0..50 { say 'Menor ou igual a 50';proceed}
    when Int { say "é um Int";proceed}
    when 42  { say 42 }
    default  { say "huh?" }
}

5.6. loop

loop é uma outra forma de fazer um laço do tipo for.

De fato, loop é como o for é escrito em linguagens da família do C.

Raku pertence à família de linguagens como C.

loop (my $i = 0; $i < 5; $i++) {
  say "O valor atual é $i"
}
Para mais informações sobre laços e condicionais, veja https://docs.raku.org/language/control

6. I/O

Em Raku, as duas interfaces mais comuns para Entrada/Saída (Input/Output ou simplesmente I/O) são o Terminal e Arquivos.

6.1. I/O básica usando o Terminal

6.1.1. say

say escreve na saída padrão, adicionando uma quebra de linha no final. Em outras palavras, a saída do código:

say 'Olá Senhora.';
say 'Olá Senhor.';

será escrita em 2 linhas separadas.

6.1.2. print

print por outro lado é como o say mas não adiciona a quebra de linha.

Experimente trocar say por print no programa acima e compare os dois resultados.

6.1.3. get

get é usado para capturar a entrada do terminal.

my $nome;

say "Oi, qual o seu nome?";
$name = get;

say "Prezado(a) $name bem-vindo(a) ao Raku";

Quando o código acima for executado, o terminal vai ficar esperando para que você coloque seu nome e aperte a tecla [Enter]. Depois disso, ele vai te cumprimentar.

6.1.4. prompt

prompt é uma combinação de print e get.

O exemplo acima pode ser escrito assim:

my $name = prompt "Oi, qual o seu nome? ";

say "Prezado(a) $name bem-vindo(a) ao Raku";

6.2. Executando Comandos Externos

Duas sub-rotinas podem ser usadas para executar comandos externos:

  • run Executa um comando externo sem envolver a shell

  • shell Executa o comando pela shell do sistema. Depende, portanto, da plataforma e da shell utilizada. Todos os metacaracteres da shell serão interpretados pela própria shell, incluindo pipes, redirecionamentos, substituições de variáveis de ambiente e assim por diante.

Execute isso se estiver usando Linux ou OSX
my $name = 'Neo';
run 'echo', "olá $name";
shell "ls";
Execute isso se estiver no Windows
shell "dir";

echo e ls são palavras chave comuns de shell em Linux.
echo exibe texto no terminal (equivalente ao print no Raku)
ls lista todos os arquivos e diretórios no diretório atual

dir é o equivalente a ls no Windows.

6.3. I/O de Arquivos

6.3.1. slurp

slurp é usado para ler dados de arquivos.

Crie um arquivo de texto com o seguinte conteúdo:

resultados.txt
João 9
José 7
Joana 8
Maria 7
my $data = slurp "resultados.txt";
say $data;

6.3.2. spurt

spurt é usado para escrever dados em arquivos.

my $novos-dados = "Novos resultados:
Paulo 10
Paulinho 9
Paulão 11";

spurt "novosresultados.txt", $novos-dados;

Após executar o código acima, um arquivo chamado novosresultados.txt será criado. Ele vai conter os novos resultados.

6.4. Trabalhando com arquivos e diretórios

Raku pode listar o conteúdo de um diretório sem precisar executar comandos da shell (usando ls) como visto em um exemplo anterior.

say dir;              # Lista arquivos e diretórios no diretório atual
say dir "/Documents"; # Lista arquivos e diretórios no diretório especificado

Você também pode criar e apagar diretórios.

mkdir "novapasta";
rmdir "novapasta";

mkdir cria um novo diretório.
rmdir remove um diretório vazio. Retorna erro se não estiver vazio.

Você também pode verificar se um determinado caminho existe, se é um arquivo ou um diretório:

No diretório onde você vai executar o script abaixo, crie um diretório vazio pasta123 e um arquivo vazio script123.raku

say "script123.raku".IO.e;
say "folder123".IO.e;

say "script123.raku".IO.d;
say "folder123".IO.d;

say "script123.raku".IO.f;
say "folder123".IO.f;

IO.e verifica se o diretório/arquivo existe.
IO.f verifica se o caminho é um arquivo.
IO.d verifica se o caminho é um diretório.

Usuários de Windows podem usar / ou \\ para definir diretórios.
C:\\rakudo\\bin
C:/rakudo/bin
Para mais informação sobre I/O, veja https://docs.raku.org/type/IO

7. Sub-rotinas

7.1. Definição

Sub-rotinas (também chamadas de subs ou funções) são formas de agrupar um conjunto de funcionalidades.

A definição de uma sub-rotina começa com a palavra-chave sub. Após sua definição, elas podem ser chamadas pelo nome.
Veja o exemplo abaixo:

sub saudação-alienígena {
  say "Olá, terráqueos";
}

saudação-alienígena;

O exemplo anterior mostra uma sub-rotina que não recebe nenhum dado de entrada.

7.2. Assinaturas

Muitas sub-rotinas pedem alguma entrada para funcionar. Essa entrada é fornecida via argumentos. O número e tipo de argumentos que essa sub-rotina aceita é chamada de assinatura da sub-rotina.

A sub-rotina abaixo aceita uma string como argumento.

sub diga-oi (Str $nome) {
    say "Oi " ~ $nome ~ "!!!!"
}
diga-oi "Paulo";
diga-oi "Paula";

7.3. Despacho Múltiplo (Multimétodos)

É possível definir várias sub-rotinas com o mesmo nome mas com assinaturas diferentes. Quando a sub-rotina é chamada, o ambiente de execução vai decidir qual versão usar dependendo do número e do tipo dos argumentos fornecidos. Esse tipo de subrotina é definido exatamente como uma sub normal, apenas trocando a palavra sub por multi.

multi cumprimento($nome) {
    say "Bom dia $nome";
}
multi cumprimento($nome, $título) {
    say "Bom dia $título $nome";
}

cumprimento "João";
cumprimento "Laura","Sra.";

7.4. Argumentos Padrão e Opcionais

Se uma sub-rotina é definida para aceitar um argumento, e fazemos a chamada sem fornecer o argumento, ela falha.

Como alternativa, o Raku nos dá a possibilidade de definir sub-rotinas com:

  • Argumentos opcionais

  • Argumentos padrão

Argumentos opcionais são definidos colocando ? no final do nome do argumento.

sub diga-oi($nome?) {
  with $nome { say "Oi " ~ $nome }
  else { say "Oi humano" }
}
diga-oi;
diga-oi("Laura");

Se o usuário não fornece o argumento, ele pode ser definido com um valor padrão específico.
Isso é feito atribuindo um valor ao argumento durante a definição da sub-rotina.

sub diga-oi($nome="Miguel") {
  say "Oi " ~ $nome;
}
diga-oi;
diga-oi("Laura");

7.5. Valores de Retorno

Todas as sub-rotinas que vimos até agora fazem alguma coisa, elas exibem algum texto no terminal.

Embora isso seja perfeitamente normal, às vezes queremos que a sub-rotina retorne um valor que possamos usar mais tarde no fluxo do nosso programa.

Em circunstâncias normais, a última linha de código de uma sub-rotina é considerada seu valor de retorno.

Retorno implícito
sub ao-quadrado ($x) {
  $x ** 2;
}
say "7 ao quadrado é " ~ ao-quadrado(7);

A medida que nosso código vai ficando maior, pode ser uma boa ideia especificar explicitamente o que queremos retornar. Isso pode ser feito usando a palavra-chave return.

Retorno explícito
sub ao-quadrado ($x) {
  return $x ** 2;
}
say "7 ao quadrao é " ~ ao-quadrado(7);

7.5.1. Restringindo valores de retorno

Em um dos nossos exemplos anteriores, vimos como podemos aceitar somente argumentos de determinados tipos. O mesmo pode ser feito com valores de retorno.

Para restringir o valor de retorno para um tipo específico, podemos usar tanto o atributo returns ou a notação de seta --> na assinatura.

Usando o atributo returns
sub ao-quadrado ($x) returns Int {
  return $x ** 2;
}
say "1.2 ao quadrado é " ~ ao-quadrado(1.2);
Usando a seta
sub ao-quadrado ($x --> Int) {
  return $x ** 2;
}
say "1.2 ao quadrado é " ~ ao-quadrado(1.2);

Se o valor retornado não casar com o tipo especificado, um erro será lançado.

Type check failed for return value; expected Int but got Rat (1.44)

Restrições de tipo podem não só controlar o tipo dos valores de retorno, como também se o valor está definido ou não.

Nos exemplos anteriores, especificamos que o valor de retorno deve ser Int, independente de ser um valor definido ou não. Em vez disso, poderíamos ter especificado que o Int retornado precisa ser definido ou indefinido usando as seguintes assinaturas:
-→ Int:D e -→ Int:U

Dito isso, é considerada boa prática usar esse tipo de restrição.
Abaixo segue a versão modificada dos exemplos anteriores usando :D para forçar o Int retornado a estar definido.

sub ao-quadrado ($x --> Int:D) {
  return $x ** 2;
}
say "1.2 ao quadrado é " ~ ao-quadrado(1.2);
Para mais informações sobre sub-rotinas e funções, veja http://doc.raku.org/language/functions

8. Programação Funcional

Nesse capítulo vamos olhar para algumas das funcionalidades que facilitam Programação Funcional.

8.1. Funções são cidadãs de primeira classe

Funções e sub-rotinas são cidadãs de primeira classe:

  • Elas podem ser passadas como argumento

  • Elas podem ser retornadas por outra função

  • Elas podem ser atribuídas a uma variável

Um bom exemplo para demonstrar esse conceito é a função map.
map é uma função de ordem superior (higher-order function), que recebe outra função como argumento.

Script
my @array = <1 2 3 4 5>;
sub ao-quadrado($x) {
  $x ** 2
}
say map(&ao-quadrado,@array);
Saída
(1 4 9 16 25)
Explicação

Definimos a sub-rotina chamada ao-quadrado, que vai elevar a 2 qualquer número fornecido como argumento.
Depois, usamos map uma função de ordem superior, e passamos dois argumentos, uma sub-rotina e um array.
O resultado é uma lista com todos os elementos do array elevados ao quadrado.

Note que ao passar uma sub-rotina como argumento, precisamos prefixar seu nome com &.

8.2. Closures (clausuras)

Todos os objetos no Raku são closures, o que significa que eles podem referenciar variáveis léxicas de escopos externos.

8.3. Funções Anônimas

Uma função anônima também é chamada de uma lambda.
Uma função anônima não está associada a um identificador (ela não tem nome).

Vamos reescrever o exemplo do map usando uma função anônima

my @array = <1 2 3 4 5>;
say map(-> $x {$x ** 2},@array);

Note que em vez de declarar a sub-rotina e passá-la como argumento ao map, nós a definimos diretamente dentro do map.
A sub-rotina anônima -> $x {$x ** 2} não possui handle e não pode ser chamada.

No linguajar Raku chamamos essa notação de pointy block (bloco pontiagudo)

Um pointy block também pode ser usado para atribuir funções à variáveis:
my $ao-quadrado = -> $x {
  $x ** 2
}
say $ao-quadrado(9);

8.4. Encadeamento (Chaining)

Em Raku, métodos podem ser encadeados, você não precisa mais passar o resultado de um método para outro como argumento.

Vamos imaginar que você recebey um array de valores. Pediram para que você retorne os valores únicos desse array, ordenados do maior para o menor.

Você pode tentar resolver esse problema escrevendo algo como isso:

my @array = <7 8 9 0 1 2 4 3 5 6 7 8 9>;
my @array-final = reverse(sort(unique(@array)));
say @array-final;

Primeiro chamamos a função unique em @array, então passamos o resultado como argumento para sort e depois passamos o resultado da ordenação para reverse.

Em contraste com o exemplo acima, o encadeamento de métodos é permitido em Raku.
O exemplo acima pode ser escrito como a seguir, tirando vantagem do encadeamento de métodos (method chaining):

my @array = <7 8 9 0 1 2 4 3 5 6 7 8 9>;
my @array-final = @array.unique.sort.reverse;
say @array-final;

É fácil perceber que encadeamento de métodos é mais agradável aos olhos.

8.5. Operador de Alimentação (Feed Operator)

O operador de alimentação, chamado de pipe em algumas linguagens de programação funcional, permite uma visualização ainda melhor do encadeamento de métodos.

Alimentação para frente
my @array = <7 8 9 0 1 2 4 3 5 6 7 8 9>;
@array ==> unique()
       ==> sort()
       ==> reverse()
       ==> my @array-final;
say @array-final;
Explicação
Comece com `@array` então retorne uma lista de elementos únicos
                    então ordene a lista
                    então inverta a lista
                    então guarde o resultado em @array-final

Como você pode ver o fluxo das chamadas é de cima para baixo.

Alimentação para trás
my @array = <7 8 9 0 1 2 4 3 5 6 7 8 9>;
my @array-final-v2 <== reverse()
                   <== sort()
                   <== unique()
                   <== @array;
say @array-final-v2;
Explicação

A alimentação para trás é como a alimentação para frente, mas escrita ao contrário.
O fluxo das chamadas é de baixo para cima.

8.6. Hiperoperador

O hiperoperador (hyper operator) >>. chama um método em todos os elementos de uma lista e retorna uma lista com todos os resultados.

my @array = <0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10>;
sub é-par($var) { $var %% 2 };

say @array>>.is-prime;
say @array>>.&é-par;

Usando o hiperoperador podemos chamar métodos já definidos no Raku, como is-prime que nos diz se um número é primo ou não.
Além disso podemos definir novas sub-rotinas e chamá-las usando o hiperoperador. Nesse caso precisamos prefixar um & ao nome do método. Por exemplo, &é-par

Isso é muito prático pois nos poupa de ter que escrever loops for para iterar sobre cada valor de um array.

8.7. Junctions (Junções)

Uma junction é uma sobreposição lógica de valores.

No exemplo abaixo 1|2|3 é uma junction.

my $var = 2;
if $var == 1|2|3 {
  say "A variável é 1 ou 2 ou 3"
}

O uso de junctions normalmente ativa autothreading; a operação é executada para cada elemento da junction, e todos os resultados são combinados em uma nova junction e retornados.

8.8. Listas Preguiçosas (Lazy Lists)

Uma lista preguiçosa (lazy) é uma lista que é avaliada de forma preguiçosa.
Avaliação preguiçosa atrasa a avaliação de uma expressão até ela ser necessária, e evita repetir avaliações armazenando resultados em uma tabela de referência.

Os benefícios incluem:

  • Aumento no desempenho evitando cálculos desnecessários

  • Capacidade de construir estruturas de dados potencialmente infinitas

  • Capacidade de definir um fluxo de controle

Para construir uma lista preguiçosa usamos o operador infixo …​
Uma lista preguiçosa tem elementos iniciais, um gerador e um final (endpoint).

Lista preguiçosa simples
my $lazy = (1 ... 10);
say $lazy;

O elemento inicial é 1 e o final é 10. Nenhum gerador foi definido então o gerador padrão é o sucessor (+1)
Em outras palavras essa lista preguiçosa pode retornar (se pedido) os seguintes elementos (1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10)

Listas preguiçosas infinitas
my $lazy = (1 ... Inf);
say $lazy;

Essa lista pode retornar (se pedido) qualquer inteiro entre 1 e infinito, em outras palavras qualquer número inteiro.

Lista preguiçosa feita por gerador deduzido
my $lazy = (0,2 ... 10);
say $lazy;

Os elementos iniciais são 0 e 2 e o final é 10. Nenhum gerador foi definido, mas usando os elementos iniciais, Raku vai deduzir que o gerador é (+2)
Essa lista preguiçosa pode retornar (se pedido) os seguintes elementos (0, 2, 4, 6, 8, 10)

Lista preguiçosa feita por gerador definido
my $lazy = (0, { $_ + 3 } ... 12);
say $lazy;

Nesse exemplo, definimos explicitamente um gerador entre { }
Essa lista preguiçosa pode retornar (se pedido) os seguintes elementos (0, 3, 6, 9, 12)

Ao usar um gerador explícito, o elemento final deve ter um valor que o gerador possa retornar.
Se reproduzirmos o exemplo acima com o final sendo 10 em vez de 12, ele não vai parar nunca. O gerador pula o elemento final.

Como alternativa, você pode trocar 0 …​ 10 por 0 …​^ * > 10
Você pode ler isso como: de 0 até o primeiro elemento maior que 10 (não inclusive)

Isso não vai parar o gerador
my $lazy = (0, { $_ + 3 } ... 10);
say $lazy;
Isso vai parar o gerador
my $lazy = (0, { $_ + 3 } ...^ * > 10);
say $lazy;

9. Classes & Objetos

No capítulo anterior, aprendemos como Raku facilita Programação Funcional.
Neste capítulo veremos programação Orientada a Objetos em Raku.

9.1. Introdução

Orientação a Objetos é um dos paradigmas mais utilizados hoje em dia.
Um objeto é um conjunto de variáveis e sub-rotinas agrupadas.
As variáveis são chamadas atributos e as sub-rotinas são chamadas métodos.
Atributos definem o estado de um objeto e métodos definem seu comportamento.

Uma classe define a estrutura de um grupo de objetos.

Para entender esse relacionamento considere o exemplo abaixo:

Há 4 pessoas em uma sala

objetos ⇒ 4 pessoas

Essas 4 pessoas são humanas

classe ⇒ Humano

Elas têm nomes, idades, sexos e nacionalidades diferentes

atributos ⇒ nome, idade, sexo, nacionalidade

No linguajar de orientação a objetos, dizemos que objetos são instâncias de uma classe.

Considere o script abaixo:

class Humano {
  has $nome;
  has $idade;
  has $sexo;
  has $nacionalidade;
}

my $joão = Humano.new(nome => 'João', idade => 23, sexo => 'M', nacionalidade => 'Brasileiro');
say $joão;

A palavra-chave class é usada para definir uma classe.
A palavra-chave has é usada para definir atributos de uma classe.
O método .new() é chamado de construtor. Ele cria um objeto como uma instância da classe que o chamou.

O script acima, uma nova variável $joão guarda uma referência para uma nova instância de "Humano" definida por Humano.new().
Os argumentos passados para o método .new() são usados para dar valores aos atributos do novo objeto.

Podemos dar escopo léxico a uma classe usando my:

my class Humano {

}

9.2. Encapsulamento

Encapsulamento é um conceito de orientação a objetos que agrupa um conjunto de dados e métodos.
Os dados (atributos) dentro de um objeto devem ser privados. Em outras palavras, acessíveis somente de dentro do objeto.
Para acessar os atributos de fora do objeto usamos métodos que chamamos de acessores (ou accessors, em inglês).

Os dois scripts abaixo fazem a mesma coisa.

Acesso direto à variável:
my $var = 7;
say $var;
Encapsulamento:
my $var = 7;
sub sayvar {
  $var;
}
say sayvar;

O método sayvar é um accessor. Ele nos permite acessar o valor de uma variável de forma indireta.

Encapsulamento é facilitado em Raku pelo uso dos twigils.
Twigils são sigils (símbolos) segundários. Eles vem entre o símbolo da variável e o nome do atributo.
Dois twigils são usados em classes:

  • ! é usado para declarar explicitamente que o atributo é privado.

  • . é usado para gerar automaticamente um acessor para o atributo.

Por padrão, todos os atributos são privados, mas é considerado boa prática sempre usar o twigil !.

Considerando isso, deveríamos reescrever a classe acima de outro jeito:

class Humano {
  has $!nome;
  has $!idade;
  has $!sexo;
  has $!nacionalidade;
}

my $joão = Humano.new(nome => 'João', idade => 23, sexo => 'M', nacionalidade => 'Brasileiro');
say $john;

Adicione ao final desse script a declaração: say $joão.idade;
Ela vai retornar o seguinte erro: Method 'idade' not found for invocant of class 'Humano' ("Método 'idade' não encontrado para classe invocante 'Humano'")
A razão é que $!idade é privado e só pode ser usado de dentro do objeto. Tentar acessar atributos privados de fora do objeto vai retornar um erro.

Agora substitua has $!idade por has $.idade e veja o resultado de say $joão.idade;

9.3. Argumentos por Nome vs. por Posição

Em Raku, todas as classes herdam o construtor padrão .new().
Ele pode ser usado para criar objetos chamando-o com alguns argumentos.
O construtor padrão só aceita argumentos por nome.
Considerando o exemplo acima, repare que todos os argumentos passados para .new() são definidos pelo próprio nome:

  • nome => 'João'

  • idade => 23

E se não quiséssemos passar o nome de cada atributo ao criar um novo objeto?
Para isso precisamos criar um outro construtor que aceite argumentos por posição.

class Humano {
  has $.nome;
  has $.idade;
  has $.sexo;
  has $.nacionalidade;

  #novo construtor que sobrescreve o construtor padrão.
  method new ($nome,$idade,$sexo,$nacionalidade) {
    self.bless(:$nome,:$idade,:$sexo,:$nacionalidade);
  }
}

my $joão = Humano.new('João',23,'M','Brasileiro');
say $joão;

9.4. Métodos

9.4.1. Introdução

Métodos são as sub-rotinas de um objeto.
Como sub-rotinas normais, eles são a forma de agrupar um conjunto de funcionalidades, eles aceitam argumentos, possuem uma assinatura e podem ser definidos como multi.

Métodos são definidos usando a palavra-chave method.
Em circunstâncias normais, métodos são necessários para fazer alguma ação com os atributos de um objeto. Isso reforça o conceito de encapsulamento. Atributos de objetos só podem ser manipulados usando métodos. O mundo externo só pode interagir com os métodos de um objeto, e não tem acesso direto aos seus atributos.

class Humano {
  has $.nome;
  has $.idade;
  has $.sexo;
  has $.nacionalidade;
  has $.maioridade;

  method avalia-maioridade {
      if self.idade < 21 {
        $!maioridade = 'Não'
      } else {
        $!maioridade = 'Sim'
      }
  }

}

my $joão = Humano.new(nome => 'João', idade => 23, sexo => 'M', nacionalidade => 'Brasileiro');
$joão.avalia-maioridade;
say $joão.maioridade;

Depois que os métodos foram definidos em uma classe, eles podem ser chamados em um objeto usando a notação de ponto:
objeto . método ou como no exemplo acima: $joão.avalia-maioridade

Dentro da definição de um método, se precisamos referenciar o próprio objeto para chamar outro método usamos a palavra-chave self.

Dentro da definição de um método, se precisarmos referenciar um atributo usamos ! mesmo que ele tenha sido definido com .
O raciocínio é que o que o . faz é declarar um atributo com ! e criar um accessor automaticamente.

No exemplo acima if self.idade < 21 e if $!idade < 21 têm o mesmo efeito, mas são tecnicamente diferentes:

  • self.idade chama o método .idade (accessor)
    Pode ser escrito alternativamente como $.idade

  • $!idade é uma chamada direta à variável

9.4.2. Métodos privados

Métodos normais podem ser chamados em objetos do lado de fora da classe.

Métodos privados são métodos que só podem ser chamados de dentro da classe.
Um possível caso de uso seria um método que chama outro para uma ação específica. O método que faz interface com o mundo externo é público enquanto o que é referenciado deve ficar privado. Nós não queremos usuários chamando-o diretamente, então o declaramos como privado.

A declaração de um método privado exige o uso do twigil ! antes do seu nome.
Métodos privados são chamados com ! em vez de .

method !sou-privado {
  # código entra aqui
}

method sou-público{
  self!sou-privado;
  #faça outras coisas
}

9.5. Atributos de Classe

Atributos de Classe são atributos que pertencem à própria classe e não aos seus objetos.
Eles podem ser inicializados durante a definição.
Atributos de Classe são declarados com my em vez de has.
Eles são chamados na classe em si em vez de nos objetos.

class Humano {
  has $.nome;
  my $.contador = 0;
  method new($nome) {
    Humano.contador++;
    self.bless(:$nome);
  }
}
my $a = Humano.new('a');
my $b = Humano.new('b');

say Humano.contador;

9.6. Tipos de Acesso

Até agora todos os exemplos que vimos usaram accessors para obter informações dos atributos de objetos.

E se quiséssemos modificar o valor de um atributo?
Precisamos classificar o atributo como leitura/escrita (read/write) usando as palavras-chave is rw

class Humano {
  has $.nome;
  has $.idade is rw;
}
my $joão = Humano.new(nome => 'João', idade => 21);
say $joão.idade;

$joão.idade = 23;
say $joão.idade;

Por padrão, todos os atributos são declarados como somente leitura mas você pode fazer isso de forma explícita usando is readonly

9.7. Herança

9.7.1. Introdução

Herança é outro conceito de programação orientada a objetos.

Ao definir classes, logo percebemos que alguns atributos/métodos são comuns a muitas classes.
Deveríamos duplicar esse código?
NÃO! Deveríamos usar herança

Vamos considerar que queremos definir duas classes, uma classe para seres Humanos e uma classe para Empregados.
Humanos tem 2 atributos: nome e idade.
Empregados tem 4 atributos: nome, idade, empresa e salário

Podemos ficar tentados a definir essas classes assim:

class Humano {
  has $.nome;
  has $.idade;
}

class Empregado {
  has $.nome;
  has $.idade;
  has $.empresa;
  has $.salário;
}

Embora tecnicamente correto, o código acima é considerado conceitualmente pobre.

Uma forma melhor de escrevê-lo é assim:

class Humano {
  has $.nome;
  has $.idade;
}

class Empregado is Humano {
  has $.empresa;
  has $.salário;
}

A palavra-chave is define herança.
Em linguajar de orientação a objetos dizemos que a classe Empregado é filha (child) de Humano, e Humano é pai (parent) de Empregado.

Todas as classes filhas herdam os atributos e métodos da classe pai, então não precisamos redefini-los.

9.7.2. Sobrescrevendo (Overriding)

Classes herdam todos os atributos e métodos das classes pai.
Há casos em que precisamos que o método da classe filha se comporte de forma diferente do método herdado.
Para isso, redefinimos o método na classe filha.
Esse conceito é chamado overriding (sobrescrever).

No exemplo abaixo, o método apresente-se é herdado pela classe Empregado.

class Humano {
  has $.nome;
  has $.idade;
  method apresente-se {
    say 'Olá, eu sou um humano e meu nome é ' ~ self.nome;
  }
}

class Empregado is Humano {
  has $.empresa;
  has $.salário;
}

my $joão = Humano.new(nome =>'João', idade => 23,);
my $joana = Empregado.new(nome =>'Joana', idade => 25, empresa => 'Acme', salário => 4000);

$joão.apresente-se;
$joana.apresente-se;

Overriding funciona da seguinte maneira:

class Humano {
  has $.nome;
  has $.idade;
  method apresente-se {
    say 'Olá, eu sou um humano e meu nome é ' ~ self.nome;
  }
}

class Empregado is Humano {
  has $.empresa;
  has $.salário;
  method apresente-se {
    say 'Olá, eu sou um empregado, meu nome é ' ~ self.nome ~ ' e eu trabalho na ' ~ self.empresa;
  }
}

my $joão = Humano.new(nome =>'João', idade => 23,);
my $joana = Empregado.new(nome =>'Joana', idade => 25, empresa => 'Acme', salário => 4000);

$joão.apresente-se;
$joana.apresente-se;

Dependendo de que classe o objeto é, o método certo será chamado.

9.7.3. Submétodos

Submétodos são um tipo de método que não é herdado por classes filhas.
Eles só são acessíveis pela classe que os declarou.
São definidos usando a palavra-chave submethod.

9.8. Herança Múltipla

Herança múltipla é permitida em Raku. Uma classe pode herdar de várias outras classes.

class gráfico-de-barras {
  has Int @.valores-das-barras;
  method exibir {
    say @.valores-das-barras;
  }
}

class gráfico-de-linhas {
  has Int @.valores-das-linhas;
  method exibir {
    say @.valores-das-linhas;
  }
}

class gráfico-combinado is gráfico-de-barras is gráfico-de-linhas {
}

my $vendas-reais = gráfico-de-barras.new(valores-das-barras => [10,9,11,8,7,10]);
my $vendas-previstas = gráfico-de-linhas.new(valores-das-linhas => [9,8,10,7,6,9]);

my $real-vs-previsto = gráfico-combinado.new(valores-das-barras => [10,9,11,8,7,10],
                                             valores-das-linhas => [9,8,10,7,6,9]);
say "Vendas reais:";
$vendas-reais.exibir;
say "Vendas previstas:";
$vendas-previstas.exibir;
say "Reais vs Previstas:";
$real-vs-previsto.exibir;
Saída
Vendas reais:
[10 9 11 8 7 10]
Vendas previstas:
[9 8 10 7 6 9]
Reais vs Previstas:
[10 9 11 8 7 10]
Explicação

A classe gráfico-combinado é capaz de guardar duas séries, uma para os valores reais em barra, e outra para valores previstos em linha.
Por isso que o definimos como filho de gráfico-de-linhas e gráfico-de-barras.
Você deve ter reparado que chamar o método exibir em gráfico-combinado não gerou o resultado desejado. Só uma das séries foi exibida.
Por que isso aconteceu?
gráfico-combinado herdou de gráfico-de-linhas e de gráfico-de-barras, e ambos possuem um método chamado exibir. Quando chamamos esse método em gráfico-combinado o Raku vai tentar resolver esse conflito chamando um dos métodos herdados.

Correção

Para que se comporte corretamente, devemos sobrescrever o método exibir em gráfico-combinado.

class gráfico-de-barras {
  has Int @.valores-das-barras;
  method exibir {
    say @.valores-das-barras;
  }
}

class gráfico-de-linhas {
  has Int @.valores-das-linhas;
  method exibir {
    say @.valores-das-linhas;
  }
}

class gráfico-combinado is gráfico-de-barras is gráfico-de-linhas {
  method exibir {
    say @.valores-das-barras;
    say @.valores-das-linhas;
  }
}

my $vendas-reais = gráfico-de-barras.new(valores-das-barras => [10,9,11,8,7,10]);
my $vendas-previstas = gráfico-de-linhas.new(valores-das-linhas => [9,8,10,7,6,9]);

my $real-vs-previsto = gráfico-combinado.new(valores-das-barras => [10,9,11,8,7,10],
                                             valores-das-linhas => [9,8,10,7,6,9]);
say "Vendas reais:";
$vendas-reais.exibir;
say "Vendas previstas:";
$vendas-previstas.exibir;
say "Reais vs Previstas:";
$real-vs-previsto.exibir;
Saída
Vendas reais:
[10 9 11 8 7 10]
Vendas previstas:
[9 8 10 7 6 9]
Reais vs Previstas:
[10 9 11 8 7 10]
[9 8 10 7 6 9]

9.9. Roles

Roles (Papéis) são parecidos com classes no sentido de que são uma coleção de atributos e métodos.

Roles são declarados com a palavra-chave role e classes que quiserem implementar o role (o papel) podem fazer isso usando a palavra-chave does (faz).

Vamos reescrever o exemplo de herança múltipla usando roles:
role gráfico-de-barras {
  has Int @.valores-das-barras;
  method exibir {
    say @.valores-das-barras;
  }
}

role gráfico-de-linhas {
  has Int @.valores-das-linhas;
  method exibir {
    say @.valores-das-linhas;
  }
}

class gráfico-combinado does gráfico-de-barras does gráfico-de-linhas {
  method exibir {
    say @.valores-das-barras;
    say @.valores-das-linhas;
  }
}

my $vendas-reais = gráfico-de-barras.new(valores-das-barras => [10,9,11,8,7,10]);
my $vendas-previstas = gráfico-de-linhas.new(valores-das-linhas => [9,8,10,7,6,9]);

my $real-vs-previsto = gráfico-combinado.new(valores-das-barras => [10,9,11,8,7,10],
                                             valores-das-linahs => [9,8,10,7,6,9]);
say "Vendas reais:";
$vendas-reais.exibir;
say "Vendas previstas:";
$vendas-previstas.exibir;
say "Real vs Previsto:";
$real-vs-previsto.exibir;

Execute o script acima e você verá que o resultado é o mesmo.

Agora você deve estar se perguntando; se roles se comportam igual a classes, qual o seu propósito?
Para responder essa pergunta modifique o primeiro script usado para demonstrar herança múltipla, aquele em que esquecemos de sobrescrever o método exibir.

role gráfico-de-barras {
  has Int @.valores-das-barras;
  method exibir {
    say @.valores-das-barras;
  }
}

role gráfico-de-linhas {
  has Int @.valores-das-linhas;
  method exibir {
    say @.valores-das-linhas;
  }
}

class gráfico-combinado does gráfico-de-barras does gráfico-de-linhas {
}

my $vendas-reais = gráfico-de-barras.new(valores-das-barras => [10,9,11,8,7,10]);
my $vendas-previstas = gráfico-de-linhas.new(valores-das-linhas => [9,8,10,7,6,9]);

my $real-vs-previsto = gráfico-combinado.new(valores-das-barras => [10,9,11,8,7,10],
                                             valores-das-linhas => [9,8,10,7,6,9]);
say "Vendas reais:";
$vendas-reais.exibir;
say "Vendas previstas:";
$vendas-previstas.exibir;
say "Reais vs Previstas:";
$real-vs-previsto.exibir;
Saída
===SORRY!===
Method 'exibir' must be resolved by class gráfico-combinado because it exists in multiple roles (gráfico-de-linhas, gráfico-de-barras)
Explicação

Se múltiplos roles são aplicados à mesma classe, e um conflito surge, um erro em tempo de compilação será gerado.
Essa é uma abordagem muito mais segura que herança múltipla onde conflitos não são considerados erros e são simplesmente resolvidos em tempo de execução (runtime).

Roles vão te avisar quando houver um conflito.

9.10. Introspecção

Introspecção é o processo de obter informação sobre as propriedades de um objeto como seu tipo, seus atributos ou seus métodos.

class Humano {
  has $.nome;
  has $.idade;
  method apresente-se {
    say 'Olá, eu sou um humano e meu nome é ' ~ self.nome;
  }
}

class Empregado is Humano {
  has $.empresa;
  has $.salário;
  method apresente-se {
    say 'Olá, eu sou um empregado, meu nome é ' ~ self.nome ~ ' e eu trabalho na ' ~ self.empresa;
  }
}

my $joão = Humano.new(nome =>'João', idade => 23,);
my $joana = Empregado.new(nome =>'Joana', idade => 25, empresa => 'Acme', salário => 4000);

say $joão.WHAT;
say $joana.WHAT;
say $joão.^attributes;
say $joana.^attributes;
say $joão.^methods;
say $joana.^methods;
say $joana.^parents;
if $joana ~~ Humano {say 'Joana é Humana'};

Introspecção é facilitada por:

  • .WHAT retorna a classe da qual o objeto foi criado.

  • .^attributes retorna uma lista contendo todos os atributos do objeto.

  • .^methods retorna todos os métodos que podem ser chamados no objeto.

  • .^parents retorna todas as classes pai as quais um objeto pertence.

  • ~~ é chamado de operador smart-match (comparação inteligente). Ele avalia como True (verdadeiro) se o objeto foi criado da mesma classe que está sendo comparada, ou qualquer uma de suas heranças.

Para mais informações sobre Programação Orientada a Objetos em Raku, veja:

10. Tratamento de Exceções

10.1. Capturando Exceções

Exceções são um comportamento especial que acontece durante a execução quando algo dá errado.
Dizemos que as exceções são lançadas (thrown).

Considere o script abaixo que roda corretamente:

my Str $nome;
$nome = "Joana";
say "Olá " ~ $nome;
say "Como vai você hoje?"
Saída
Olá Joana
Como vai você hoje?

Agora considere esse script que lança uma exceção:

my Str $nome;
$nome = 123;
say "Olá " ~ $nome;
say "Como vai você hoje?"
Saída
Type check failed in assignment to $nome; expected Str but got Int
   in block <unit> at exceptions.raku:2

Você deve ter percebido que sempre que um erro ocorre (nesse caso, atribuir um número a uma variável de string) o programa vai parar e outras linhas de código não serão avaliadas, mesmo que estejam corretas.

Tratamento de exceções é o processo de capturar uma exceção que foi lançada para que o script continue funcionando.

my Str $nome;
try {
  $nome = 123;
  say "Olá " ~ $nome;
  CATCH {
    default {
      say "Pode dizer seu nome de novo? Não o encontramos nos registros.";
    }
  }
}
say "Como vai você hoje?";
Saída
Pode dizer seu nome de novo? Não o encontramos nos registros.
Como vai você hoje?

Tratamento de exceções é feito usando um bloco try-catch.

try {
  # coloque algum código aqui
  # se algo der errado, o script vai entrar para o bloco CATCH abaixo
  # se nada der errado o bloco CATCH será ignorado
  CATCH {
    default {
      # o código aqui dentro só será executado se uma exceção for lançada
    }
  }
}

O bloco CATCH pode ser definido da mesma forma que um bloco given. Isso significa que podemos capturar e tratar de forma diferente muitos tipos de exceção.

try {
  # coloque algum código aqui
  # se algo der errado, o script vai entrar para o bloco CATCH abaixo
  # se nada der errado o bloco CATCH será ignorado
  CATCH {
    when X::AdHoc { # faça algo quando uma exceção do tipo X::AdHoc for lançada }
    when X::IO { # faça algo quando exceções do tipo X::IO forem lançadas }
    when X::OS { # faça algo se uma exceção do tipo X::OS for lançada }
    default { # faça algo se uma exceção for lançada que não seja dos tipos acima }
  }
}

10.2. Lançando Exceções

Assim como capturar exceções, Raku também permite que você explicitamente lance exceções.
Dois tipos de exceções podem ser lançados:

  • exceções ad-hoc

  • exceções tipadas

ad-hoc
my Int $age = 21;
die "Erro!";
tipada
my Int $age = 21;
X::AdHoc.new(payload => 'Erro!').throw;

Exceções ad-hoc são lançadas usando a sub-rotina die seguido da mensagem de exceção.

Exceções tipadas são objetos, por isso o uso do construtor .new() no exemplo acima.
Todas as exceções tipadas descendem da classe X, abaixo seguem alguns exemplos:
X::AdHoc é o tipo mais simples de exceção
X::IO é para exceções relacionadas a erros de IO
X::OS é para erros do sistema operacional (OS)
X::Str::Numeric é relacionada a errors tentando converter strings em números

Para uma lista completa de tipos de exceção e seus métodos associados visite https://docs.raku.org/type-exceptions.html

11. Expressões Regulares

Uma expressão regular, ou regex, é uma sequência de caracteres usada para identificação de padrões.
A forma mais fácil de entender regexes é pensar nelas como padrões.

if 'iluminação' ~~ m/ ilumina / {
    say "inluminação contém a palavra ilumina";
}

Nesse exemplo, o operador de comparação inteligente ~~ é usado para verificar se a string (iluminação) contém a palavra (ilumina).
"Iluminação" casa com a regex m/ ilumina /

11.1. Definição de regex

Uma expressão regular pode ser definida da seguinte maneira:

  • /ilumina/

  • m/ilumina/

  • rx/ilumina/

A menos que você peça explicitamente, espaços em branco são irrelevantes, m/ilumina/ e m/ ilumina / são iguais.

11.2. Casando caracteres

Caracteres alfanuméricos e o underscore _ são escritos normalmente.
Todos os outros caracteres precisam ser escapados usando contrabarra ou colocados entre aspas.

Contrabarra
if 'Temperatura: 13' ~~ m/ \: / {
    say "A string fornecida contém dois-pontos :";
}
Aspas simples
if 'Idade = 13' ~~ m/ '=' / {
    say "A string fornecida contém o símbolo de igualdade =";
}
Aspas duplas
if 'nome@empresa.com' ~~ m/ "@" / {
    say "Esse é um email válido porque contém o caractere @";
}

11.3. Casando categorias de caracteres

Caracteres podem ser classificados em categorias que podemos usar para casar.
Também podemos casar com o inverso daquela categoria (tudo menos ela):

Categoria

Regex

Inverso

Regex

Caractere de palavra (letra, dígito ou underscore)

\w

Qualquer caractere menos os de palavra

\W

Dígito

\d

Qualquer caractere menos dígitos

\D

Espaços

\s

Qualquer caractere menos espaços em branco

\S

Espaço horizontal

\h

Qualquer caractere menos espaços horizontais

\H

Espaço vertical

\v

Qualquer caractere menos espaços verticais

\V

Tab

\t

Qualquer caractere menos Tab

\T

Quebra de linha

\n

Qualquer caractere menos quebra de linha

\N

if "João123" ~~ / \d / {
  say "Nome inválido, números não são permitidos";
} else {
  say "Esse nome é válido"
}
if "João-Ninguém" ~~ / \s / {
  say "Essa string tem espaços";
} else {
  say "Essa string não tem espaços"
}

11.4. Propriedades Unicode

Casar contra categorias de caracteres como vimos na seção anterior é conveniente.
Dito isso, uma abordagem mais sistemática seria utilizarmos propriedades Unicode.
Propriedades Unicode são definidas entre <: e >

if "João23" ~~ / <:N> / {
  say "Contém um número";
} else {
  say "Não contém um número"
}
if "João-Ninguém" ~~ / <:Lu> / {
  say "Contém letras em maiúsculas";
} else {
  say "Não contém letras em maiúsculas"
}
if "João-Ninguém" ~~ / <:Pd> / {
  say "Contém um traço";
} else {
  say "Não contém traços"
}

11.5. Curingas

Curingas também podem ser usados em uma regex.

O ponto . casa com qualquer caractere simples.

if 'abc' ~~ m/ a.c / {
    say "Casou";
}
if 'a2c' ~~ m/ a.c / {
    say "Casou";
}
if 'ac' ~~ m/ a.c / {
    say "Casou";
  } else {
    say "Não Casou";
}

11.6. Quantificadores

Quantificadores vem depois de um caractere e são usados para especificar quantas vezes o esperamos.

A interrogação ? significa zero ou uma vez.

if 'ac' ~~ m/ a?c / {
    say "Casou";
  } else {
    say "Não casou";
}
if 'c' ~~ m/ a?c / {
    say "Casou";
  } else {
    say "Não Casou";
}

O asterisco * significa zero ou mais vezes.

if 'az' ~~ m/ a*z / {
    say "Casou";
  } else {
    say "Não Casou";
}
if 'aaz' ~~ m/ a*z / {
    say "Casou";
  } else {
    say "Não Casou";
}
if 'aaaaaaaaaaz' ~~ m/ a*z / {
    say "Casou";
  } else {
    say "Não Casou";
}
if 'z' ~~ m/ a*z / {
    say "Casou";
  } else {
    say "Não Casou";
}

O + significa pelo menos uma vez.

if 'az' ~~ m/ a+z / {
    say "Casou";
  } else {
    say "Não Casou";
}
if 'aaz' ~~ m/ a+z / {
    say "Casou";
  } else {
    say "Não Casou";
}
if 'aaaaaaaaaaz' ~~ m/ a+z / {
    say "Casou";
  } else {
    say "Não Casou";
}
if 'z' ~~ m/ a+z / {
    say "Casou";
  } else {
    say "Não Casou";
}

11.7. Resultados

Sempre que casamos uma string com uma regex, o resultado é armazenado na variável especial $/

Script
if 'Rakudo é um compilador de Raku.' ~~ m/:s Raku/ {
    say "Casou com: " ~ $/;
    say "A string que veio antes foi: " ~ $/.prematch;
    say "A string que veio depois foi: " ~ $/.postmatch;
    say "A string encontrada começa na posição: " ~ $/.from;
    say "A string encontrada termina na posição: " ~ $/.to;
}
Saída
Casou com: Raku
A string que veio antes foi: Rakudo é um compilador de
A string que veio depois foi: .
A string encontrada começa na posição: 26
A string encontrada termina na posição: 32
Explicação

$/ retorna um Objeto de Match (a string que casa com a regex)
Os seguintes métodos podem ser chamados no Objeto de Match:
.prematch retorna a string que precede a sequência casada.
.postmatch retorna a string que sucede a sequência casada.
.from retorna a posição na string em que a sequência casada começa.
.to retorna a posição na string em que a sequência casada termina.

Por padrão os espaços em branco numa definição de regex são irrelevantes.
Se queremos casar uma expressão regular contendo espaços temos que dizer isso explicitamente.
O :s na regex m/:s Raku/ força que espaços em branco sejam considerados e não descartados.
Poderíamos ter escrito essa regex como m/ Perl\s6 / e usado \s que, como vimos antes, é um placeholder para espaços.
Se uma regex contém mais de um espaço em branco, usar :s torna-se mais eficiente em vez de usar \s para cada caractere de espaço.

11.8. Exemplo

Vamos verificar se um email é válido ou não.
Para esse exemplo vamos assumir que um email válido é formado por:
primeiro nome [ponto] último nome [arroba] empresa [ponto] (com/org/net)

a regex usada nesse exemplo não é muito precisa para validação de emails.
Seu único propósito é demonstrar a funcionalidade das regexes em Raku.
Não use como está aqui em ambientes de produção.
Script
my $email = 'mario.silva@raku.org';
my $regex = / <:L>+\.<:L>+\@<:L+:N>+\.<:L>+ /;

if $email ~~ $regex {
  say $/ ~ " é um email válido";
} else {
  say "Esse não é um email válido";
}
Saída

mario.silva@raku.org é um email válido

Explicação

<:L> casa com uma letra
<:L>` casa com uma ou mais letras + `\.` casa com um caractere de [ponto] + `\@` casa com um caractere de [arroba] + `<:L:N> casa com uma letra e um número
<:L+:N>+ casa com uma ou mais (letras e números)

Essa regex pode ser decomposta da seguinte forma:

  • primeiro nome <:L>+

  • [ponto] \.

  • último nome <:L>+

  • [arroba] \@

  • empresa <:L+:N>+

  • [ponto] \.

  • com/org/net <:L>+

A regex também pode ser dividida em múltiplas regexes rotuladas
my $email = 'mario.silva@raku.org';
my regex muitas-letras { <:L>+ };
my regex ponto { \. };
my regex arroba { \@ };
my regex muitas-letras-e-numeros { <:L+:N>+ };

if $email ~~ / <muitas-letras> <ponto> <muitas-letras> <arroba> <muitas-letras-e-numeros> <ponto> <muitas-letras> / {
  say $/ ~ " é um email válido";
} else {
  say "Esse não é um email válido";
}

Uma regex rotulada é definida usando a seguinte sintaxe: my regex nome-da-regex { definição da regex }
Uma regex rotulada pode ser chamada usando a seguinte sintaxe: <nome-da-regex>

Para mais informações sobre regexes, veja https://docs.raku.org/language/regexes

12. Módulos em Raku

Raku é uma linguagem de uso geral. Ela pode ser usada para resolver uma série de tarefas incluindo: manipulação de textos, gráficos, web, bancos de dados, protocolos de rede, etc.

Reusabilidade é um conceito muito importante onde programadores não precisam reinventar a roda cada vez que querem fazer uma nova tarefa.

Raku permite a criação e redistribuição de módulos. Cada módulo é um conjunto de funcionalidades que pode ser reutilizado após instalado.

Zef é uma ferramenta de gestão de módulos que vem com o Rakudo Star.

Para instalar um módulo específico, digite o comando abaixo no seu terminal:

zef install "nome do módulo"

O diretório de módulos Raku pode ser encontrado em: https://modules.raku.org/

12.1. Usando Módulos

MD5 é uma função de hash criptográfico que produz um valor de 128 bits.
MD5 tem uma variedade de aplicações como o armazenamento de senhas em um banco de dados. Quando um usuário se cadastra, suas credenciais não são armazenadas em texto puro e sim na forma de um hash. O raciocínio por trás disso é que se o banco de dados for comprometido, quem fez o ataque não conseguirá descobrir as senhas de acesso.

Digamos que você precise de um script que gere um hash MD5 de uma senha antes de guardá-la no banco de dados.

Felizmente existe um módulo em Raku que já implementa o algoritmo MD5. Vamos instalá-lo:
zef install Digest::MD5

Agora execute o script abaixo:

use Digest::MD5;
my $senha = "senha123";
my $hash-da-senha = Digest::MD5.new.md5_hex($senha);

say $hash-da-senha;

Para executar a função md5_hex() que cria os hashes MD5, precisamos carregar o módulo relacionado.
A palavra-chave use carrega o módulo para ser usado no script.

O uso de hashing MD5 não é suficiente, porque é um método vulnerável a ataques de dicionário.
Hashes de senhas devem ser "salgados" para mais segurança https://en.wikipedia.org/wiki/Salt_(cryptography).

13. Unicode

Unicode é o padrão para codificar e representar caracteres de texto que abrange o maior número de sistemas de escrita do mundo.
UTF-8 é uma codificação de caracteres capaz de codificar todos os caracteres possíveis, ou code points, em Unicode.

Caracteres são definidos por:
Grafema (grapheme): A representação visual.
Code point: Um número atribuído a esse caractere.

13.1. Usando Unicode

Vejamos como podemos exibir caracteres usando Unicode
say "a";
say "\x0061";
say "\c[LATIN SMALL LETTER A]";

As 3 linhas acima mostram formas diferentes de se construir o mesmo caractere:

  1. Escrevendo o caractere diretamente (grafema)

  2. Usando \x e o code point

  3. Usando \c e o nome do code point

Agora vamos exibir um smiley
say "☺";
say "\x263a";
say "\c[WHITE SMILING FACE]";
Outro exemplo combinando dois code points
say "á";
say "\x00e1";
say "\x0061\x0301";
say "\c[LATIN SMALL LETTER A WITH ACUTE]";

A letra á pode ser escrita:

  • usando seu code point único \x00e1

  • ou como uma combinação dos code points de a e de acento agudo \x0061\x0301

Alguns dos métodos que podem ser usados:
say "á".NFC;
say "á".NFD;
say "á".uniname;
Saída
NFC:0x<00e1>
NFD:0x<0061 0301>
LATIN SMALL LETTER A WITH ACUTE

NFC retorna o code point único.
NFD decompõe o caractere e retorna o code point de cada parte.
uniname retorna o nome do code point.

Letras em Unicode podem ser usadas como identificadores:
my  = 1;
++;
say ;
Unicode pode ser usado para operações matemáticas:
my $var = 2 + ;
say $var;

14. Paralelismo, Concorrência e Assincronicidade

14.1. Paralelismo

Em circunstâncias normais, todas as tarefas de um programa executam em sequência.
Isso pode não ser um problema, a menos que o que esteja tentando fazer consuma muito tempo.

Raku possui recursos que permitem que você execute tarefas em paralelo.
Nesse ponto, é importante notar que paralelismo pode significar uma dessas duas coisas:

  • Paralelismo de Tarefas: Duas (ou mais) expressões independentes executando em paralelo.

  • Paralelismo de Dados: Uma única expressão iterando sobre uma lista de elementos em paralelo.

Vamos começar pelo segundo.

14.1.1. Paralelismo de Dados

my @array = (0..50000);                     # Populando o array
my @result = @array.map({ is-prime $_ });   # chame is-prime para cada elemento do array
say now - INIT now;                         # Exibe o tempo que o script levou pra rodar
Considerando o exemplo acima:

Estamos apenas fazendo uma operação, @array.map({ is-prime $_ })
A sub-rotina is-prime está sendo chamada para cada elemento do array em sequência:
is-prime @array[0] depois is-prime @array[1] depois is-prime @array[2] etc.

Felizmente podemos chamar is-prime em múltiplos elementos do array ao mesmo tempo:
my @array = (0..50000);                         # Populando o array
my @result = @array.race.map({ is-prime $_ });  # chame is-prime para cada elemento do array
say now - INIT now;                             # exiba o tempo que o script levou pra rodar

Note o uso de race na expressão. Esse método vai ativar a iteração em paralelo dos elementos do array.

Após executar ambos os exemplos (com e sem race), compare o tempo que levou para cada um dos scripts executar.

race não vai preservar a ordem dos elementos. Para fazer isso, use hyper.

race
my @array = (1..1000);
my @result = @array.race.map( {$_ + 1} );
.say for @result;
hyper
my @array = (1..1000);
my @result = @array.hyper.map( {$_ + 1} );
.say for @result;

Se você rodar os dois exemplos, verá que um está ordenado e o outro não.

14.1.2. Paralelismo de Tarefas

my @array1 = (0..49999);
my @array2 = (2..50001);

my @result1 = @array1.map( {is-prime($_ + 1)} );
my @result2 = @array2.map( {is-prime($_ - 1)} );

say @result1 eqv @result2;

say now - INIT now;
Considere o exemplo acima:
  1. Nós definimos 2 arrays

  2. aplicamos uma operação diferente em cada array e guardamos os resultados

  3. então verificamos se os dois resultados são iguais

O script espera até @array1.map( {is-prime($_ + 1)} ) terminar
e só então começa @array2.map( {is-prime($_ - 1)} )

Só que as duas operações são aplicadas a arrays diferentes e não dependem uma da outra.

Por que não executá-las em paralelo?
my @array1 = (0..49999);
my @array2 = (2..50001);

my $promise1 = start @array1.map( {is-prime($_ + 1)} ).eager;
my $promise2 = start @array2.map( {is-prime($_ - 1)} ).eager;

my @result1 = await $promise1;
my @result2 = await $promise2;

say @result1 eqv @result2;

say now - INIT now;
Explicação

O método start avalia o código e retorna um objeto do tipo promessa ou abreviadamente, uma promise (promessa).
Se o código executar com sucesso, a promessa será mantida.
Se o código lançar uma exceção, a promessa será quebrada.

O método await espera por uma promessa.
Se ela for mantida o método obterá os valores retornados.
Se ela for quebrada o método obterá a exceção lançada.

Observe o tempo que o script levou para executar.

Paralelismo sempre adiciona um custo (overhead) de threading. Se esse overhead não for compensado pelo ganho em velocidade computacional, o script pode parecer mais lento.
É por isso que usar race, hyper, start and await para scripts muito simples pode de fato deixá-los mais lentos.

14.2. Concorrência e Assincronicidade

Para mais informações sobre Concorrência e Programação Assíncrona, veja https://docs.raku.org/language/concurrency

15. A Comunidade

  • Canal de IRC #raku. Muita discussão acontece no canal de IRC. Esse deve ser seu lugar de destino para qualquer questão: https://raku.org/community/irc

  • Agregador de blogs pl6anet. Fique em dia lendo blog posts com foco em Raku.

  • /r/raku. Assine a subreddit do Raku.